Declaração de Artista
Sobre - Declaração de Artista
A pintura é minha linguagem expressiva. Considero-me um paisagista contemporâneo autoral, a interpretar a dinâmica da natureza em sua grandiosidade, beleza, alcance e buscando compreender sua relação com o ser humano no meio ambiente. É neste espaço, de ligação entre os tempos, passado, presente e futuro, que me encontro. É onde me sinto à vontade para recriar a tradição da paisagem em sintonia com o hoje. A pintura é meu testemunho e a natureza, a referência, uma inspiração constante.
A linha de trabalho que escolho é conduzida pelos elementos que compõem os cenários urbanos e naturais e sua conexão com o homem, remetendo às memórias e vivências pessoais, que convergem para a relação ideal da humanidade com a natureza preservada. As lembranças que emergem das paisagens montanhosas, marítimas e das cidades onde residi são assunto da pintura. Carregam certo mistério, algo que fica escondido, querendo provocar quietude ou não, como se quisessem conter um momento ou história vivenciada.
A essência da minha paisagem é a luz, que sempre será o altar preferido da manifestação da natureza. Por meio da paisagem posso explorar diversos temas criando metáforas. É para esse lugar que conduzo minha pintura, agregando o elemento humano em escala diminuta, quase imperceptível, para comunicar a natureza em uma atmosfera autoral de sublimidade e grandiosidade, além de um profundo sentido espiritual. Utilizo os efeitos da luminosidade e da cor para criar atmosferas intimistas, misteriosas e fluidas. Além disso, o cenário citadino me encanta, pois minha pintura tem forte influência da arquitetura urbana conectada com o cotidiano e com o estilo agitado das metrópoles.
Minha obra estabelece uma conexão com o real mas não é o real. A paisagem que construo é imaginária, tão secreta que, se der um zoom em um recorte qualquer da pintura, vai se deparar com o inesperado. Em vez de declarativo, público, o observador vai perceber, pelo detalhe, todo o mistério que envolve meu trabalho. São edifícios, casebres habitados, talvez por aventureiros, são promessas de felicidade, beiradas de rios, sussurro de vento, natureza morta que se transforma em natureza viva.
São experiências do cotidiano em metrópoles, que vão bordando, alinhavando novas paisagens, novas histórias. Por meio de códigos visuais imaginários registro as particularidades da paisagem dualizada (urbana e natural) e, ao mesmo tempo, segmentada em microterritórios no espaço. A intenção vai bem além do imaginado, numa perspectiva intimista e acolhedora, para sensibilizar percepções sobre o planeta e suas constantes transformações na atualidade.
Minha técnica preferencial é a tinta acrílica sobre suportes variados, como tela, madeira e papel com uso de pincéis e espátulas. Em alguns momentos também lanço mão do guache sobre papel canson. No processo criativo, utilizo poucas cores, geralmente três, que se diluem em variados tons graves ou agudos, às vezes, também em harmônicas composições monocromáticas. Os brancos do suporte vão sendo preenchidos e definidos, principalmente em termos de planos, os quais utilizo muitos, e os considero impressões digitais da minha obra. Reservo, ainda, espaços de descanso visual, de vazios. Raramente faço um "antes", um esboço ou algo parecido. Tudo é imediato, na hora. A intuição, no entanto, persiste, não permitindo que desvie do trajeto a ser percorrido.
Absorvo e incorporo referências da arte oriental e estabeleço uma interlocução com o impressionismo de Monet, o que permite que minha pintura figurativa sutilmente se conduza para uma aura semiabstrata. Entre o figurativo e o abstrato, o implícito é mais importante do que o explícito.
Não intelectualizo, nem busco controvérsias na minha pintura, pois me apoio sempre na procura deliberada da estética da beleza, que é ampla e subjetiva mas que deve criar questionamento, possuir mistério e solicitar novas descobertas em cada outra procura da intenção.
Mauro Silper
Brasil, Belo Horizonte - 2023